O início da vida de Aristides Germani, futuro criador do Moinho da Cascata 1863 – 1885
Aristides Germani nasce em 1863, em Corte de’Frati, na província de Cremona, norte da Itália. Filho de Giovanni Germani e Madalena Santini Germani e irmão de Giuseppe Germani. A Lombardia, onde fica Cremona, era destaque na produção de trigo, o que ajuda a entender por que Aristides se aproximaria da moagem anos depois.
Falece pai de Aristides. Sua mãe se casa de novo com Parmini Giacobbe, que trabalhava como pedreiro. Aos nove anos de idade, Aristides passa a trabalhar como servente com seu padrasto e abandona a escola.
Aristides perde a mãe. Aos 16 anos, começa a trabalhar no moinho de Giacomo Tansini, na Vila de Dósimo, onde permanece cerca de seis anos adquirindo experiência. Depois, passa a trabalhar no moinho de Pelini Pangélo, e esse ano dá início à sua trajetória no ramo da moagem.

Com o irmão Giuseppe convocado para o serviço militar por três anos e incentivado pelo tio materno Emmanuele Santini, residente do Brasil, Aristides decide emigrar. Ele sai do porto de Gênova em agosto, e leva quase um mês para chegar ao Brasil.

Aristides desembarca no Rio de Janeiro com 22 anos. Depois segue para Porto Alegre, onde espera alguns dias até viajar para uma das colônias de imigração no Rio Grande do Sul. No dia 28 de setembro, chega ao distrito de Caxias (antiga colônia Campo dos Bugres), encontra o tio Emmanuele e passa a morar e trabalhar como agricultor.
As raízes do Moinho da em Caxias do Sul 1886 – 1892
Em Caxias, Aristides percebe que a produção local de trigo é baixa, e os poucos moinhos produzem farinha de milho e centeio. Os moleiros locais são Giusué Vaccari, Paulo Otolini, arrendatário de Antônio Corsetti, e Giovani Venzon. Aristides trabalha com Otolini e depois com Vaccari, com quem traz inovações e produz os primeiros sacos de farinha de trigo.
Aristides assume o comando do moinho de Luiz Antônio Feijó Júnior, mas o negócio não vai para frente. Mesmo com a experiência frustrada, ele decide continuar no ramo e, logo depois, passa a tocar o moinho de Antônio Corsetti como arrendatário.
![Retrato da família de Aristides e Maria Germani, com filhos, genros e noras. A partir da esquerda, sentados: Rosinha Germani, Olga Germani, Marieta Mainardi Germani, Italo Germani, Aristides Germani, Roberto Germani, Ernesto Germani e Pedro Germani; de pé, os casais: Ida Germani Bergamaschi e Atílio Bergamaschi, Ermelinda Germani Rossatto e Luiz Rossatto, Inês Germani Franzoni e Francisco Franzoni, Virgínia Rossi Germani e Alfredo Germani, Angelina Germani Corsetti e Angelo Corsetti. Lê-se no verso: "Oferecido pela família Germani aos compadres Vitório e Eliza Aguzzoli Meneguzzo". Caxias, [1919/1920]. Autoria: Giacomo Geremia. Acervo: AHMJSA.](https://moinhodacascata.com.br/wp-content/uploads/2025/06/1889-300x227.jpeg)
Casa-se com Marieta Mainardi, com quem viveu por mais de cinquenta anos. O casal teve 16 filhos, embora alguns tenham falecido ainda jovens.





Aristides compra um terreno na região da 9ª Légua, ao lado do arroio Marquês do Herval (que viria a ser chamado de Arroio Tega) onde constrói um moinho rudimentar, se dedica à plantação de uvas e, aproveitando a natureza local, instala um recreio familiar que ficou conhecido como Veraneio ou Balneário Germani, funcionando por décadas como ponto de lazer. Nessa época, o Arroio já começou a ter um papel importante na rotina da comunidade, sendo usado para a agricultura, como força para moinhos, geração de energia e como espaço de convivência.
Consolidação, modernização e expansão do Moinho 1901 – 1917
Adquire uma turbina vertical para o moinho, que se torna o primeiro estabelecimento da cidade a contar com luz elétrica, mais de dez anos antes da inauguração da usina municipal em 1913.

O Moinho passa por uma grande reforma, sendo reconstruído em alvenaria para ganhar mais resistência. Além disso, Germani instala a primeira linha telefônica da cidade, que liga o Moinho ao quiosque de Francisco Dalprá, localizado na praça Dante Alighieri. Essa inovação marcou um avanço tecnológico importante para o município naquela época.
O Moinho de Germani se destaca como o único hidráulico iluminado por luz elétrica e alcança uma produção de 5.800 sacos de farinha Flor, 1.200 de Primeira, 450 de Segunda, 76 toneladas de farelo e mil sacos de farinha de milho.
Aristides viaja à Itália para visitar sua comuna de origem e adquirir novos equipamentos. Compra maquinário na Fábrica Mecânica Lombarda, em Monza, reforçando a modernização do Moinho.
![Moinho Aristides Germani (Moinho da Cascata).
Caxias, RS.
Data: [c. 1910].
Autoria: Giacomo Geremia.
Fundo Família Neves.
Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.](https://moinhodacascata.com.br/wp-content/uploads/2025/06/1912-300x220.jpg)
![Vista do arroio Marquês do Herval (Tega), tendo à direita o Moinho de Aristides Germani. Foto colorizada à mão. Caxias, [c. 1912]. Autoria não identificada. Fundo Família Sassi. Acervo: AHMJSA.](https://moinhodacascata.com.br/wp-content/uploads/2025/06/19121-300x191.jpg)
O Moinho de Germani recebe medalha de ouro na Exposição do Centenário de Santa Maria (RS) com a farinha Hércules. Produz quase 13 mil sacos no ano e inicia a importação de sementes de trigo da Argentina, com apoio da Intendência, para fortalecer a produção local.

A revista Indústria e Comércio estampa em sua capa o “moinho a cylindros Italobrazileiro de Aristides Germani” como uma indústria modelo na cidade. O texto destaca Aristides como “o mais fervoroso industrialista e estimado comerciante” de Caxias, reforçando a importância do moinho para o desenvolvimento econômico local.

![A mesma fotografia da publicação de 1917, aqui em formato de cartão-postal, com a inscrição “Premiada Fábrica de Farinha de Trigo. Aristides Germani – Cascias” [sic]. Fonte: Campos Neto (1939).](https://moinhodacascata.com.br/wp-content/uploads/2025/06/19171-194x300.jpg)








O crescimento industrial 1925 – 1959
Aristides decide construir um novo moinho, com maior capacidade de produção. Retorna à Itália e, em Reggio Emilia, adquire o maquinário.
Junto à cascata do Arroio Tega, Germani constrói uma usina para abastecer com energia o novo moinho, instalado no entorno da estação férrea.
O novo prédio, na rua Coronel Flores, é inaugurado com capacidade para produzir 500 sacos de farinha de trigo por dia. As atividades passam a se concentrar nesse local, ao lado da residência da família, construída em 1920. Com isso, o Moinho anterior passa a ser lentamente esquecido.

![Moinho Ítalo Brasileiro Aristides Germani. Caxias, [década de 1930]. Autoria: Studio Geremia. Fundo Studio Geremia. Acervo: AHMJSA.](https://moinhodacascata.com.br/wp-content/uploads/2025/06/19282-300x222.jpg)
![Tratores prontos para seguir para Vacaria em frente ao Moinho Ítalo Brasileiro Aristides Germani. Caxias, [década de 1930]. Autoria: Studio Geremia. Fundo Studio Geremia. Acervo: AHMJSA.](https://moinhodacascata.com.br/wp-content/uploads/2025/06/19283-300x218.jpg)
O moinho recebe a visita de Getúlio Vargas, então presidente do estado, que anuncia uma campanha para incentivar o plantio de trigo no Rio Grande do Sul. A partir de 1930, já como presidente do Brasil, Vargas passa a receber ofícios de Germani solicitando apoio federal à cultura do trigo.

Em 5 de agosto, falece Aristides Germani.
Após o falecimento de Aristides, o moinho segue operando como Vva. Aristides Germani & Cia., liderado pela viúva e pelos filhos. A empresa mantém atividades no prédio da rua Coronel Flores e abre uma filial em Porto Alegre.


Em 28 de agosto, falece Marieta, viúva de Aristides. Os filhos seguem à frente do negócio, agora concentrado no novo moinho construído posteriormente.
Época de Degradação 1960 – 1994
Surgem as primeiras referências públicas sobre o abandono do antigo moinho da Cascata e a poluição crescente do arroio Tega.
A família Germani protocola um pedido de preservação do antigo moinho, que gera encaminhamentos formais para avaliação de tombamento do imóvel.
O mau cheiro da represa do antigo moinho volta a gerar preocupação pública. A poluição do arroio Tega ganha nova repercussão, com destaque para os trechos próximos ao prédio, que seguia abandonado.
Um novo destino para o Moinho da Cascata 1997 – 2003
Os Moinhos Germani foram adquiridos pelo empresário Dalvino Aldo Tondo, que também demonstrou interesse na preservação dos imóveis históricos, incluindo o Moinho da Cascata e o Moinho da Estação Férrea. No início do ano, o prédio da Cascata passou a ser ocupado pelo CTG Herdeiros do Pampa, que encontrou o espaço deteriorado e anteriormente utilizado por jovens em situação de vulnerabilidade.

Ganha destaque a situação crítica do arroio Tega e do prédio do antigo moinho, que já refletia os impactos da expansão urbana e do despejo de efluentes.

Renovação cultural e uso atual do Moinho da Cascata 2012 – dias atuais
Em busca de uma nova sede, o Grupo Ueba conhece o antigo Moinho da Cascata e se encanta com o espaço e seu potencial. Aline e Jonas negociam com os proprietários, representados por Elói Tondo, e firmam um acordo que permite ao grupo utilizar o prédio para ensaios e criações teatrais. Logo nos primeiros meses, os espetáculos “Radicci e Genoveva” e “A Mãe e o Monstro” ganham vida no interior do moinho.

No dia 10 de dezembro, data em que se comemora o Dia do Palhaço, o Grupo Ueba assina contrato de locação do prédio. Participam da assinatura de locação Thereza Tondo, matriarca da família, e a filha Eloísa Tondo. Arquiteta e urbanista. Eloísa coordenou projeto de construção de um anexo ao Moinho da Cascata, contando com rampas de acessibilidade e sanitários, além de outras melhorias pontuais no interior do prédio, tornando o espaço mais funcional e acolhedor para as atividades culturais.

Em janeiro, o Grupo Ueba muda-se para a nova sede – o prédio do moinho da cascata –, como locatário. Em 17 de dezembro, falece Dalvino Aldo Tondo, diretor-presidente e fundador da empresa Tondo S.A. Em março, o grupo traz a atriz italiana Lina Della Rocca para um curso teatral. Discípula do aclamado ator e diretor de teatro italiano Eugênio Barba, Lina beija o piso do teatro do moinho da cascata, repetindo ato realizado por Barba quando entrou no Teatro Ridotto de Bologna (Itália), fundado por Lina.
Com a chegada da pandemia, as atividades presenciais no moinho são suspensas. Em março, é decretado estado de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia do coronavírus (SARS-CoV-2, causador da doença Covid-19). Atividades consideradas não essenciais e com reunião de público são interrompidas por longo período. Apesar das dificuldades, toda equipe do Grupo Ueba é mantida. O grupo consegue apoio com a família Tondo, proprietária do imóvel, para interromper o pagamento do aluguel até que as atividades de teatro pudessem ser retomadas, o que ocorre apenas ao final do ano seguinte. Durante o período de isolamento social, o Moinho da Cascata foi cenário para websérie e filme, realizados pelo Grupo Ueba, e compartilhados pela internet.


Após dez anos ocupando e cuidando do espaço, e a pedido da família Tondo, Aline e Jonas, em nome do Grupo Ueba, apresentam uma proposta para a compra do prédio. Por ser um bem tombado, o Moinho é inicialmente oferecido à União, ao Estado e ao Município, que não manifestam interesse. Com isso, abre-se caminho para que a negociação com a família Tondo tenha sucesso.
O Grupo Ueba mantém sua sede no prédio do Moinho da Cascata, cuidando de uma área de 17 mil m², onde preservam a memória do patrimônio industrial e promovem arte, cultura e encontros. O grupo segue ativo, com peças, filmes, livros e atividades culturais que reforçam seu papel na cena artística de Caxias do Sul.
O projeto Moinho da Cascata Passado e Presente é realizado e a história de Aristides Germani, da edificação e do entorno são apresentadas a comunidade.
Sobre a Pesquisa
Pesquisa histórica produzida pelo Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), sob a orientação do professor Anthony Beux Tessari. Publicada no ano de 2025.
O serviço teve como objetivo realizar pesquisa histórica documental em acervos, coleta e seleção de fontes escritas, impressas e visuais. Também, a elaboração de cronologia com base nas transformações do moinho e seu entorno, contextualizando o seu surgimento e usos ao longo do tempo. Ainda, a produção de entrevistas de história oral sobre a história do prédio e do moinho. O moinho está localizado na rua Henrique Riboldi, n.º 69, bairro Santa Catarina / Marechal Floriano (região chamada no passado de IX Légua), em Caxias do Sul (RS).
A pesquisa foi realizada com fontes das instituições: Instituto Memória Histórica e Cultural da UCS, Biblioteca Central da UCS, Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami de Caxias do Sul, Centro de Memória da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, Arquivo Nacional, Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Foram selecionadas fontes como: anúncios e notícias em jornal, publicações impressas e comemorativas (livros e álbuns ilustrados), atas, relatórios públicos, processos, fotografias. Contribuíram com depoimentos: Aline Zilli (Grupo Ueba), Jonas Piccoli (Grupo Ueba), Elói Tondo (antigo proprietário), Lucas Troglio (pesquisador sobre a história ambiental de Caxias do Sul).