A história do Moinho da Cascata começa muito antes de se tornar um espaço de cultura. Ela nasce com a trajetória de Aristides Germani, um imigrante italiano que ao chegar a Caxias do Sul, viu na força das águas do Arroio Tega uma oportunidade de construir um futuro. Desde então, o Moinho atravessou diferentes ciclos: crescimento, abandono, preservação e, hoje, renovação. Essa linha do tempo percorre os principais marcos dessa trajetória, que conecta passado, presente e futuro. Pesquisa histórica produzida pelo Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), sob a orientação do professor Anthony Beux Tessari.

O início da vida de Aristides Germani, futuro criador do Moinho da Cascata 1863 – 1885

Aristides Germani nasce em 1863, em Corte de’Frati, na província de Cremona, norte da Itália. Filho de Giovanni Germani e Madalena Santini Germani e irmão de Giuseppe Germani. A Lombardia, onde fica Cremona, era destaque na produção de trigo, o que ajuda a entender por que Aristides se aproximaria da moagem anos depois.

Falece pai de Aristides.  Sua mãe se casa de novo com Parmini Giacobbe, que trabalhava como pedreiro. Aos nove anos de idade, Aristides passa a trabalhar como servente com seu padrasto e abandona a escola.

Aristides perde a mãe. Aos 16 anos, começa a trabalhar no moinho de Giacomo Tansini, na Vila de Dósimo, onde permanece cerca de seis anos adquirindo experiência. Depois, passa a trabalhar no moinho de Pelini Pangélo, e esse ano dá início à sua trajetória no ramo da moagem.

Emmanuele Santini, tio de Aristides, e esposa, receberam o jovem sobrinho em sua residência quando este emigrou da Itália. Fonte: Campos Neto (1939).

Com o irmão Giuseppe convocado para o serviço militar por três anos e incentivado pelo tio materno Emmanuele Santini, residente do Brasil, Aristides decide emigrar. Ele sai do porto de Gênova em agosto, e leva quase um mês para chegar ao Brasil.

Aristides Germani aos 22 anos. Fonte: Campos Neto (1939).
Aristides Germani aos 22 anos. Fonte: Campos Neto (1939).

Aristides desembarca no Rio de Janeiro com 22 anos. Depois segue para Porto Alegre, onde espera alguns dias até viajar para uma das colônias de imigração no Rio Grande do Sul. No dia 28 de setembro, chega ao distrito de Caxias (antiga colônia Campo dos Bugres), encontra o tio Emmanuele e passa a morar e trabalhar como agricultor.

As raízes do Moinho da em Caxias do Sul 1886 – 1892

Em Caxias, Aristides percebe que a produção local de trigo é baixa, e os poucos moinhos produzem farinha de milho e centeio. Os moleiros locais são Giusué Vaccari, Paulo Otolini, arrendatário de Antônio Corsetti, e Giovani Venzon. Aristides trabalha com Otolini e depois com Vaccari, com quem traz inovações e produz os primeiros sacos de farinha de trigo.

Aristides assume o comando do moinho de Luiz Antônio Feijó Júnior, mas o negócio não vai para frente. Mesmo com a experiência frustrada, ele decide continuar no ramo e, logo depois, passa a tocar o moinho de Antônio Corsetti como arrendatário.

Retrato da família de Aristides e Maria Germani, com filhos, genros e noras. A partir da esquerda, sentados: Rosinha Germani, Olga Germani, Marieta Mainardi Germani, Italo Germani, Aristides Germani, Roberto Germani, Ernesto Germani e Pedro Germani; de pé, os casais: Ida Germani Bergamaschi e Atílio Bergamaschi, Ermelinda Germani Rossatto e Luiz Rossatto, Inês Germani Franzoni e Francisco Franzoni, Virgínia Rossi Germani e Alfredo Germani, Angelina Germani Corsetti e Angelo Corsetti. Lê-se no verso: "Oferecido pela família Germani aos compadres Vitório e Eliza Aguzzoli Meneguzzo". Caxias, [1919/1920]. Autoria: Giacomo Geremia. Acervo: AHMJSA.
Retrato da família de Aristides e Maria Germani, com filhos, genros e noras. A partir da esquerda, sentados: Rosinha Germani, Olga Germani, Marieta Mainardi Germani, Italo Germani, Aristides Germani, Roberto Germani, Ernesto Germani e Pedro Germani; de pé, os casais: Ida Germani Bergamaschi e Atílio Bergamaschi, Ermelinda Germani Rossatto e Luiz Rossatto, Inês Germani Franzoni e Francisco Franzoni, Virgínia Rossi Germani e Alfredo Germani, Angelina Germani Corsetti e Angelo Corsetti. Lê-se no verso: “Oferecido pela família Germani aos compadres Vitório e Eliza Aguzzoli Meneguzzo”. Caxias, [1919/1920]. Autoria: Giacomo Geremia. Acervo: AHMJSA.

Casa-se com Marieta Mainardi, com quem viveu por mais de cinquenta anos. O casal teve 16 filhos, embora alguns tenham falecido ainda jovens.

Recreio familiar de Aristides Germani (sem data). Fonte: Campos Neto (1939).
Recreio familiar de Aristides Germani (sem data). Fonte: Campos Neto (1939).
Recreio familiar de Aristides Germani (sem data). Fonte: Cinquantenario (1925)
Recreio familiar de Aristides Germani (sem data). Fonte: Cinquantenario (1925)
Piquenique da família Sassi e amigos no Veraneio Germani. Caxias, RS. Autoria não identificada. Fundo Família Sassi. Acervo: AHMJSA
Piquenique da família Sassi e amigos no Veraneio Germani. Caxias, RS. Autoria não identificada. Fundo Família Sassi. Acervo: AHMJSA
Grupo no Veraneio Germani. Caxias, 1909. Autoria: Domingos Mancuso. Doação: Francisco Fortuna. Fundo Domingos Mancuso. Acervo: AHMJSA.
Grupo no Veraneio Germani. Caxias, 1909. Autoria: Domingos Mancuso. Doação: Francisco Fortuna. Fundo Domingos Mancuso. Acervo: AHMJSA.
Grupo de pessoas reunidas por ocasião do batizado de Júlio Eberle, realizado no Veraneio e Balneário Germani. Caxias, c. 1910. Autoria: Domingos Mancuso. Doação: Francisco Fortuna. Fundo Domingos Mancuso. Acervo: AHMJSA.
Grupo de pessoas reunidas por ocasião do batizado de Júlio Eberle, realizado no Veraneio e Balneário Germani. Caxias, c. 1910. Autoria: Domingos Mancuso. Doação: Francisco Fortuna. Fundo Domingos Mancuso. Acervo: AHMJSA.

Aristides compra um terreno na região da 9ª Légua, ao lado do arroio Marquês do Herval (que viria a ser chamado de Arroio Tega) onde constrói um moinho rudimentar, se dedica à plantação de uvas e, aproveitando a natureza local, instala um recreio familiar que ficou conhecido como Veraneio ou Balneário Germani, funcionando por décadas como ponto de lazer. Nessa época, o Arroio já começou a ter um papel importante na rotina da comunidade, sendo usado para a agricultura, como força para moinhos, geração de energia e como espaço de convivência.

O primitivo moinho de Aristides Germani. Fonte: Cinquantenario (1925).
O primitivo moinho de Aristides Germani. Fonte: Cinquantenario (1925).

Esse ano marca o começo oficial do funcionamento do moinho construído por Aristides Germani às margens do Arroio.

Consolidação, modernização e expansão do Moinho 1901 – 1917

Adquire uma turbina vertical para o moinho, que se torna o primeiro estabelecimento da cidade a contar com luz elétrica, mais de dez anos antes da inauguração da usina municipal em 1913.

O quiosque de Francisco Dal Prá na praça Dante Alighieri, em 1909. Autoria: Domingos Mancuso. Doação: Francisco Fortuna. Acervo: AHMJSA.
O quiosque de Francisco Dal Prá na praça Dante Alighieri, em 1909. Autoria: Domingos Mancuso. Doação: Francisco Fortuna. Acervo: AHMJSA.

O Moinho passa por uma grande reforma, sendo reconstruído em alvenaria para ganhar mais resistência. Além disso, Germani instala a primeira linha telefônica da cidade, que liga o Moinho ao quiosque de Francisco Dalprá, localizado na praça Dante Alighieri. Essa inovação marcou um avanço tecnológico importante para o município naquela época.

O Moinho de Germani se destaca como o único hidráulico iluminado por luz elétrica e alcança uma produção de 5.800 sacos de farinha Flor, 1.200 de Primeira, 450 de Segunda, 76 toneladas de farelo e mil sacos de farinha de milho.

Aristides viaja à Itália para visitar sua comuna de origem e adquirir novos equipamentos. Compra maquinário na Fábrica Mecânica Lombarda, em Monza, reforçando a modernização do Moinho.

Moinho Aristides Germani (Moinho da Cascata).
Caxias, RS.
Data: [c. 1910].
Autoria: Giacomo Geremia.
Fundo Família Neves.
Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Moinho Aristides Germani (Moinho da Cascata). Caxias, RS. Data: [c. 1910]. Autoria: Giacomo Geremia. Fundo Família Neves. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Vista do arroio Marquês do Herval (Tega), tendo à direita o Moinho de Aristides Germani. Foto colorizada à mão. Caxias, [c. 1912]. Autoria não identificada. Fundo Família Sassi. Acervo: AHMJSA.
Vista do arroio Marquês do Herval (Tega), tendo à direita o Moinho de Aristides Germani. Foto colorizada à mão. Caxias, [c. 1912]. Autoria não identificada. Fundo Família Sassi. Acervo: AHMJSA.

O Moinho de Germani recebe medalha de ouro na Exposição do Centenário de Santa Maria (RS) com a farinha Hércules. Produz quase 13 mil sacos no ano e inicia a importação de sementes de trigo da Argentina, com apoio da Intendência, para fortalecer a produção local.

Farinha exposta em Santa Maria, 1914. Fonte: Campos Neto (1939).
Farinha exposta em Santa Maria, 1914. Fonte: Campos Neto (1939).

A revista Indústria e Comércio estampa em sua capa o “moinho a cylindros Italobrazileiro de Aristides Germani” como uma indústria modelo na cidade. O texto destaca Aristides como “o mais fervoroso industrialista e estimado comerciante” de Caxias, reforçando a importância do moinho para o desenvolvimento econômico local.

Industria e Commercio, set./1917. Acervo: AHMJSA.
Industria e Commercio, set./1917. Acervo: AHMJSA.
 A mesma fotografia da publicação de 1917, aqui em formato de cartão-postal, com a inscrição “Premiada Fábrica de Farinha de Trigo. Aristides Germani – Cascias” [sic]. Fonte: Campos Neto (1939).
A mesma fotografia da publicação de 1917, aqui em formato de cartão-postal, com a inscrição “Premiada Fábrica de Farinha de Trigo. Aristides Germani – Cascias” [sic]. Fonte: Campos Neto (1939).
Fachada do estabelecimento, então denominado Moinho Ítalo-Brasileiro, também fábrica de massas alimentícias. Fonte: Campos Neto (1939).
Fachada do estabelecimento, então denominado Moinho Ítalo-Brasileiro, também fábrica de massas alimentícias. Fonte: Campos Neto (1939).
O moinho e a queda d’água, por volta de 1925. Fonte: Cinquantenario (1925).
O moinho e a queda d’água, por volta de 1925. Fonte: Cinquantenario (1925).
O moinho em outro ângulo, por volta de 1925. Fonte: Cinquantenario (1925).
O moinho em outro ângulo, por volta de 1925. Fonte: Cinquantenario (1925).
Legenda da publicação: Sezione di burattazione. Fonte: Cinquantenario (1925).
Legenda da publicação: Sezione di burattazione. Fonte: Cinquantenario (1925).
Legenda da publicação: Sezione dela macinazione cilindrica. Fonte: Cinquantenario (1925).
Legenda da publicação: Sezione dela macinazione cilindrica. Fonte: Cinquantenario (1925).
Legenda da publicação: Sezione insaccamento e mostruário dela rinomata farina marca "Hercules". Fonte: Cinquantenario (1925).
Legenda da publicação: Sezione insaccamento e mostruário dela rinomata farina marca “Hercules”. Fonte: Cinquantenario (1925).
Legenda da publicação: Vista da frente do estabelecimento e moradias. Fonte: O Rio Grande do Sul Colonial (1918).
Legenda da publicação: Vista da frente do estabelecimento e moradias. Fonte: O Rio Grande do Sul Colonial (1918).
Legenda da publicação: Um aspecto do estabelecimento, vendo-se a represa. Fonte: O Rio Grande do Sul Colonial (1918).
Legenda da publicação: Um aspecto do estabelecimento, vendo-se a represa. Fonte: O Rio Grande do Sul Colonial (1918).

O crescimento industrial 1925 – 1959

Aristides decide construir um novo moinho, com maior capacidade de produção. Retorna à Itália e, em Reggio Emilia, adquire o maquinário.

Junto à cascata do Arroio Tega, Germani constrói uma usina para abastecer com energia o novo moinho, instalado no entorno da estação férrea.

O novo prédio, na rua Coronel Flores, é inaugurado com capacidade para produzir 500 sacos de farinha de trigo por dia. As atividades passam a se concentrar nesse local, ao lado da residência da família, construída em 1920. Com isso, o Moinho anterior passa a ser lentamente esquecido.

Casa da família Germani, localizada na rua Coronel Flores. Fonte: Cinquantenario (1925).
Casa da família Germani, localizada na rua Coronel Flores. Fonte: Cinquantenario (1925).
Moinho Ítalo Brasileiro Aristides Germani. Caxias, [década de 1930]. Autoria: Studio Geremia. Fundo Studio Geremia. Acervo: AHMJSA.
Moinho Ítalo Brasileiro Aristides Germani. Caxias, [década de 1930]. Autoria: Studio Geremia. Fundo Studio Geremia. Acervo: AHMJSA.
Tratores prontos para seguir para Vacaria em frente ao Moinho Ítalo Brasileiro Aristides Germani. Caxias, [década de 1930]. Autoria: Studio Geremia. Fundo Studio Geremia. Acervo: AHMJSA.
Tratores prontos para seguir para Vacaria em frente ao Moinho Ítalo Brasileiro Aristides Germani. Caxias, [década de 1930]. Autoria: Studio Geremia. Fundo Studio Geremia. Acervo: AHMJSA.

O moinho recebe a visita de Getúlio Vargas, então presidente do estado, que anuncia uma campanha para incentivar o plantio de trigo no Rio Grande do Sul. A partir de 1930, já como presidente do Brasil, Vargas passa a receber ofícios de Germani solicitando apoio federal à cultura do trigo.

Visita de Getúlio Vargas (ao centro da imagem), em 1929. À frente, Aristides Germani (esq.) e Celeste Gobbato (dir.). Fonte: Campos Neto (1939).
Visita de Getúlio Vargas (ao centro da imagem), em 1929. À frente, Aristides Germani (esq.) e Celeste Gobbato (dir.). Fonte: Campos Neto (1939).

Em 5 de agosto, falece Aristides Germani.

Após o falecimento de Aristides, o moinho segue operando como Vva. Aristides Germani & Cia., liderado pela viúva e pelos filhos. A empresa mantém atividades no prédio da rua Coronel Flores e abre uma filial em Porto Alegre.

Legenda da publicação: Uma vista do gigantesco silo erigido junto ao Moinho Germani na capital do estado. Este silo é o mais bem aparelhado do Rio Grande do Sul, contando com equipamento moderno, importado da Suíça. Fonte: Álbum dos 75 Anos (1950).
Legenda da publicação: Uma vista do gigantesco silo erigido junto ao Moinho Germani na capital do estado. Este silo é o mais bem aparelhado do Rio Grande do Sul, contando com equipamento moderno, importado da Suíça. Fonte: Álbum dos 75 Anos (1950).
Legenda da publicação: Uma vista do gigantesco silo erigido junto ao Moinho Germani na capital do estado. Este silo é o mais bem aparelhado do Rio Grande do Sul, contando com equipamento moderno, importado da Suíça. Fonte: Álbum dos 75 Anos (1950).
Legenda da publicação: Uma vista do gigantesco silo erigido junto ao Moinho Germani na capital do estado. Este silo é o mais bem aparelhado do Rio Grande do Sul, contando com equipamento moderno, importado da Suíça. Fonte: Álbum dos 75 Anos (1950).

Em 28 de agosto, falece Marieta, viúva de Aristides. Os filhos seguem à frente do negócio, agora concentrado no novo moinho construído posteriormente.

Época de Degradação 1960 – 1994

Surgem as primeiras referências públicas sobre o abandono do antigo moinho da Cascata e a poluição crescente do arroio Tega.

Ganha destaque a situação crítica do arroio Tega e do prédio do antigo moinho, que já refletia os impactos da expansão urbana e do despejo de efluentes.

Jornal Pioneiro, 17 de maio de 1975.
Jornal Pioneiro, 17 de maio de 1975.

Moradores da região reivindicam a demolição da represa do moinho. Também circulam relatos de “fantasmas” e “assombrações” no entorno do prédio, cuja arquitetura começa a ser associada a uma aparência de construção medieval.

Jornal Pioneiro, 20 de março de 1976.
Jornal Pioneiro, 20 de março de 1976.

A família Germani protocola um pedido de preservação do antigo moinho, que gera encaminhamentos formais para avaliação de tombamento do imóvel.

O mau cheiro da represa do antigo moinho volta a gerar preocupação pública. A poluição do arroio Tega ganha nova repercussão, com destaque para os trechos próximos ao prédio, que seguia abandonado.

Um novo destino para o Moinho da Cascata 1997 – 2003

Os Moinhos Germani foram adquiridos pelo empresário Dalvino Aldo Tondo, que também demonstrou interesse na preservação dos imóveis históricos, incluindo o Moinho da Cascata e o Moinho da Estação Férrea. No início do ano, o prédio da Cascata passou a ser ocupado pelo CTG Herdeiros do Pampa, que encontrou o espaço deteriorado e anteriormente utilizado por jovens em situação de vulnerabilidade.

Prédio estava bastante deteriorado
Prédio estava bastante deteriorado

Ganha destaque a situação crítica do arroio Tega e do prédio do antigo moinho, que já refletia os impactos da expansão urbana e do despejo de efluentes.

O prédio do antigo Moinho da Cascata foi oficialmente tombado como patrimônio histórico de Caxias do Sul. O Moinho da Estação já havia recebido o mesmo reconhecimento em 2001.
O prédio do antigo Moinho da Cascata foi oficialmente tombado como patrimônio histórico de Caxias do Sul. O Moinho da Estação já havia recebido o mesmo reconhecimento em 2001.

Começou o processo de restauro do Moinho da Cascata, idealizado por Elói Tondo e executado pela empresa Basso Engenharia, a partir de um projeto do arquiteto Luciano Basso. A obra levou quatro anos para ser concluída.

Imagens do Acervo da Tondo Participações

Renovação cultural e uso atual do Moinho da Cascata 2012 – dias atuais

Em busca de uma nova sede, o Grupo Ueba conhece o antigo Moinho da Cascata e se encanta com o espaço e seu potencial. Aline e Jonas negociam com os proprietários, representados por Elói Tondo, e firmam um acordo que permite ao grupo utilizar o prédio para ensaios e criações teatrais. Logo nos primeiros meses, os espetáculos “Radicci e Genoveva” e “A Mãe e o Monstro” ganham vida no interior do moinho.

Elói Tondo
Elói Tondo

 

No dia 10 de dezembro, data em que se comemora o Dia do Palhaço, o Grupo Ueba assina contrato de locação do prédio. Participam da assinatura de locação Thereza Tondo, matriarca da família, e a filha Eloísa Tondo. Arquiteta e urbanista. Eloísa coordenou projeto de construção de um anexo ao Moinho da Cascata, contando com rampas de acessibilidade e sanitários, além de outras melhorias pontuais no interior do prédio, tornando o espaço mais funcional e acolhedor para as atividades culturais.

Eloisa e Thereza Tondo
Eloisa e Thereza Tondo

Em janeiro, o Grupo Ueba muda-se para a nova sede – o prédio do moinho da cascata –, como locatário. Em 17 de dezembro, falece Dalvino Aldo Tondo, diretor-presidente e fundador da empresa Tondo S.A. Em março, o grupo traz a atriz italiana Lina Della Rocca para um curso teatral. Discípula do aclamado ator e diretor de teatro italiano Eugênio Barba, Lina beija o piso do teatro do moinho da cascata, repetindo ato realizado por Barba quando entrou no Teatro Ridotto de Bologna (Itália), fundado por Lina.

Lina Della Rocca

Com a chegada da pandemia, as atividades presenciais no moinho são suspensas. Em março, é decretado estado de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia do coronavírus (SARS-CoV-2, causador da doença Covid-19). Atividades consideradas não essenciais e com reunião de público são interrompidas por longo período. Apesar das dificuldades, toda equipe do Grupo Ueba é mantida. O grupo consegue apoio com a família Tondo, proprietária do imóvel, para interromper o pagamento do aluguel até que as atividades de teatro pudessem ser retomadas, o que ocorre apenas ao final do ano seguinte. Durante o período de isolamento social, o Moinho da Cascata foi cenário para websérie e filme, realizados pelo Grupo Ueba, e compartilhados pela internet.

Sótão da Flor - Websérie
Sótão da Flor – Websérie
Fábulas do Sul - O Filme gravado na pandemia tendo o Moinho da Cascata como locação
Fábulas do Sul – O Filme gravado na pandemia tendo o Moinho da Cascata como locação

O Espaço é qualificado através do projeto “Ueba: Arte que Roda Moinhos”. São adquiridos equipamentos cênicos como iluminação e sonorização, módulos de palco, cadeiras, expositores para artes plásticas, equipamento de cinema e além de acervo de livros para a biblioteca.

Após dez anos ocupando e cuidando do espaço, e a pedido da família Tondo, Aline e Jonas, em nome do Grupo Ueba, apresentam uma proposta para a compra do prédio. Por ser um bem tombado, o Moinho é inicialmente oferecido à União, ao Estado e ao Município, que não manifestam interesse. Com isso, abre-se caminho para que a negociação com a família Tondo tenha sucesso.

Em junho, é inaugurado o Café do Moinho, um espaço que amplia as possibilidades de convivência no local, funcionando aos finais de semana. O café se soma às atividades culturais já realizadas, oferecendo um novo motivo para que a comunidade frequente o espaço.

O Grupo Ueba mantém sua sede no prédio do Moinho da Cascata, cuidando de uma área de 17 mil m², onde preservam a memória do patrimônio industrial e promovem arte, cultura e encontros. O grupo segue ativo, com peças, filmes, livros e atividades culturais que reforçam seu papel na cena artística de Caxias do Sul.

O projeto Moinho da Cascata Passado e Presente é realizado e a história de Aristides Germani, da edificação e do entorno são apresentadas a comunidade.

Sobre a Pesquisa

Pesquisa histórica produzida pelo Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), sob a orientação do professor Anthony Beux Tessari. Publicada no ano de 2025.

O serviço teve como objetivo realizar pesquisa histórica documental em acervos, coleta e seleção de fontes escritas, impressas e visuais. Também, a elaboração de cronologia com base nas transformações do moinho e seu entorno, contextualizando o seu surgimento e usos ao longo do tempo. Ainda, a produção de entrevistas de história oral sobre a história do prédio e do moinho. O moinho está localizado na rua Henrique Riboldi, n.º 69, bairro Santa Catarina / Marechal Floriano (região chamada no passado de IX Légua), em Caxias do Sul (RS).

A pesquisa foi realizada com fontes das instituições: Instituto Memória Histórica e Cultural da UCS, Biblioteca Central da UCS, Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami de Caxias do Sul, Centro de Memória da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, Arquivo Nacional, Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Foram selecionadas fontes como: anúncios e notícias em jornal, publicações impressas e comemorativas (livros e álbuns ilustrados), atas, relatórios públicos, processos, fotografias. Contribuíram com depoimentos: Aline Zilli (Grupo Ueba), Jonas Piccoli (Grupo Ueba), Elói Tondo (antigo proprietário), Lucas Troglio (pesquisador sobre a história ambiental de Caxias do Sul).

Estudo Histórico