CRONOLOGIA DE USO DO ESPAÇO
1891 – Aristides Germani adquire o terreno.
1892 – Constrói moinho com roda hidráulica vertical às margens do arroio Tega.
Fim do século XIX – É construída a casa de veraneio e outra casa de madeira, que passará a ser a frente do moinho de alvenaria.
1901 – Instala turbina vertical para geração de energia elétrica.
1905 – Constrói nova edificação para o moinho do outro lado do arroio, em alvenaria. Mantém o moinho de madeira original com a turbina elétrica.
Década de 1910 – É realizada uma ampliação nos fundos do moinho.
1917 – Instalação de novos equipamentos adquiridos em Monza, na Itália, expande a construção até a base do arroio, com casa de máquinas do gerador de energia para um moinho a cilindros.
1918 – Substituição da frente em madeira por uma nova ampliação em alvenaria com base de pedra, seguindo a construção original. A nova fachada recebe reboco e ornamentos ecléticos.
1928 – Construção do novo moinho junto à estação férrea leva as máquinas e a produção para um novo sítio, deixando o edifício existente com função administrativa e como gerador de energia.
Década de 1960 – Abandono do antigo moinho e início da poluição do arroio Tega.
1977 – Solicitação de preservação do moinho pelos descendentes.
1984 – O moinho passa a ser moradia de uma família.
1997 – Dalvino Tondo adquire o moinho.
2002 – Tombamento do moinho.
2003 – 2007 – Restauro promovido pela família Tondo, sob a condução de Elói Tondo. Projeto dos arquitetos Paulo Cesa Filho e Luciano Basso.
2013 – Eloisa Tondo promove melhorias no prédio, com a construção de um anexo contendo banheiros e acessibilidade.
2014 – O Grupo Ueba transfere sua sede para o edifício e cria o Centro Cultural Moinho da Cascata.
2022 – Após oferecer a edificação para as instâncias Federal, Estadual e Municipal, sem que elas manifestassem interesse na na propriedade, o Grupo Ueba então adquire o prédio.
2024 – Centro Cultural Moinho da Cascata recebe alvará turístico e passa a abrir suas portas ao público aos finais de semana.
![Moinho Aristides Germani. Fundo família Saldanha. Local: Caxias, RS Data aproximada: [c.a.]1930](https://moinhodacascata.com.br/wp-content/uploads/2025/08/foto-colorida-230x300.jpg)
Primeiro Moinho (1891–1892) – Demolido
O primeiro edifício foi construído logo após a compra do terreno, seguindo a metodologia de construção dos imigrantes italianos. Tratava-se de uma edificação rudimentar, feita em madeira, que funcionou como moinho de 1891 a 1905. Entre 1905 e 1917, passou a operar como gerador de energia para o novo moinho instalado do outro lado do Arroio Tega. Perdeu sua função original em 1917, com a implantação de um moinho a cilindros e novos equipamentos para geração de energia.
A estrutura possuía base em pedra natural e pavimento em tábua rachada, localizada junto à queda d’água da cascata. O curso do arroio foi desviado propositalmente para conduzir a água até a roda hidráulica vertical, conhecida como azenha. Observa-se a presença de uma parede frontal alinhada com a roda de madeira, que provavelmente servia como base para instalação e manutenção dos equipamentos.
PEDRA
O porão de pedra era um elemento comum nas construções dos imigrantes, devido à durabilidade e à resistência à umidade — especialmente importante neste caso, pela proximidade com a água. As pedras de basalto utilizadas eram extraídas do próprio terreno, dada sua abundância e a pouca profundidade necessária para obtê-las.
MADEIRA
A madeira mais utilizada era a da araucária, abundante na região. As toras eram rachadas manualmente com cunhas de ferro, introduzidas a golpes de malho. Se o tronco apresentasse rachadura irregular, era descartado.
Curiosidade: após perder 12 pinheiros por não conseguirem rachá-los adequadamente, José Gelain desenvolveu uma técnica para identificar quais árvores eram apropriadas: na primeira machadada, se o tronco não rachasse com facilidade, a árvore não era derrubada. (Posenato, 1983, p. 123)
ABERTURAS
As janelas tinham caixilhos em madeira, compostos por duas folhas do tipo “calha”, feitas com tábuas verticais pregadas a duas travessas horizontais.
AZENHA
Geralmente confeccionadas em madeira de angico ou cabriúva, as azenhas eram alimentadas por um canal com caimento mínimo de 2%. Para testar a vazão da água, utilizava-se uma lasca de madeira: media-se o tempo que ela levava para percorrer determinado trecho, cubava-se o volume e dividia-se pelo tempo. Segundo o depoimento de Claudio Mantovani, esse teste não era realizado em épocas de cheia, sendo necessário aguardar 14 dias de estiagem. (Posenato, 1983, p. 389)

Caxias, RS.
Data: [c. 1912].
Autoria não identificada.
Fundo Família Sassi.
Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Casa de Veraneio – Recreio Familiar (final do século XIX) – Demolida
Já em 1910 há registros fotográficos da casa de veraneio, embora notícias publicadas em jornais desde 1903 mencionem o uso do local para piqueniques e banhos, sem especificar a existência da edificação naquela época.
A construção era em madeira serrada, com técnica de mata junta, assentada sobre base de pedra natural, que incluía um arrimo na parte posterior do terreno. Aproveitando o desnível, a casa possuía um porão de madeira nos fundos.
As janelas principais eram do tipo guilhotina, divididas em seis pinázios com vidro. No sótão, observa-se uma janela em duas folhas, feita de taipais de madeira, com abertura para fora.
O telhado era em duas águas, coberto com telhas de barro. O beiral recebeu, em momento posterior, um lambrequim decorativo, que aparece pela primeira vez na fotografia do Álbum de Caxias, de 1925.
Anexa à casa, havia um estábulo com cobertura também em duas águas, telhado de barro e fechamento em treliças diagonais, permitindo ventilação natural ao ambiente.
Em 1918, o conjunto contava com uma casa de dois pavimentos em madeira, a casa de veraneio, uma horta e o moinho ao fundo. Nota-se, nesse período, a existência de uma ponte de acesso ao lote, alinhada ao eixo da edificação principal.



Moinho de Alvenaria (1905) – Existente
O edifício atual resulta de três distintos períodos de construção, perceptíveis pela variação na tonalidade e na aplicação dos tijolos. Inicialmente, foi erguida uma edificação de dois pavimentos com porão e sótão, em alvenaria aparente, com aproximadamente 10 x 12 metros, coberta por telhado de duas águas. A base em pedra se estendia na parte posterior, formando um anexo com cobertura de uma água e fechamento em madeira. Uma construção em madeira do final do século XIX foi mantida, sendo a nova edificação em alvenaria construída encostada a ela.
Na década de 1910, a construção foi ampliada sobre o porão de pedra, elevando os dois pavimentos da edificação original. Manteve-se o método construtivo em alvenaria de tijolos aparentes, cuja diferença de coloração evidencia as fases distintas da obra.
O anexo em madeira, situado na frente do edifício principal e provavelmente destinado a uso administrativo, foi substituído por uma nova ampliação em alvenaria em 1918, quando a fachada foi revestida com reboco.



ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DA EDIFICAÇÃO
O edifício que existe hoje é resultado de três períodos distintos de construção. Percebe- se a diferença na cor e na aplicação dos tijolos nos 3 períodos distintos de construção da edificação.
Inicialmente foi construído um edifício de 2 pavimentos com porão e sótão, em alvenaria aparente (aproximadamente 10x12m) de cobertura em 2 águas. A base de pedra que se estendia em relação ao fundo, formando um anexo com cobertura de uma água e fechamento em madeira. Uma construção de madeira feita no final do século XIX foi mantida e a nova construção em alvenaria executada encostada nesta.

Detalhes da Construção Existente
A estrutura da edificação é mista, composta por alvenaria portante no perímetro e estrutura de madeira no interior, utilizada para vencer o vão de aproximadamente 10×10 metros. Essa estrutura de madeira é formada por pilares que sustentam vigas no sentido longitudinal da construção, sobre as quais se apoiam os barrotes que compõem o assoalho.
O piso dos pavimentos superiores é constituído por tábuas de madeira assentadas diretamente sobre esses barrotes.
Por meio de imagens antigas do moinho, observa-se que a estrutura de madeira se integrava de forma orgânica às próprias máquinas, criando uma simbiose entre a arquitetura e o sistema de produção.
No porão, os pilares foram executados em alvenaria, solução adotada para suportar melhor as condições de umidade, em função da proximidade com o arroio.
Fachada Frontal
A fachada exibe características do estilo eclético. Sua composição é simétrica, organizada em três pavimentos, com um eixo central que concentra os principais elementos visuais. O frontão curvo central é delimitado por moldura em relevo, onde originalmente havia a inscrição “Aristides Germani”. O topo do frontão é ornamentado com motivos florais ou vegetais estilizados, típicos da época. Volutas laterais reforçam a curvatura do frontão, enquanto pináculos nos extremos superiores conferem verticalidade e ritmo à fachada.
No eixo central do segundo pavimento, há uma sacada em ferro forjado com guarda-corpo em arabescos, que se destaca como elemento decorativo e funcional. As janelas seguem o padrão vertical com arco abatido.
A fachada é dividida horizontalmente por cimalhas, estabelecendo uma hierarquia entre os pavimentos. Os letreiros “Moinho Ítalo-Brasileiro” e “Fábrica de Massas Alimentícias” eram originalmente aplicados diretamente sobre a alvenaria.
Porão
O porão é composto por pedras talhadas de forma irregular, com tamanhos variados e faces parcialmente lapidadas. Pequenas pedras lascadas foram utilizadas para preencher as frestas. As juntas foram vedadas com argamassa simples ou materiais naturais, como o barro, visando acomodar as irregularidades e garantir o travamento das pedras.
A solução estrutural baseia-se no peso próprio das pedras e na disposição em fiadas horizontais para assegurar estabilidade. A variação de alinhamento é compensada pela sobreposição das pedras, o que proporciona travamento e distribuição uniforme das cargas. Esta base atua como alicerce para a estrutura, oferecendo resistência às cargas verticais e proteção contra a umidade do solo — aspecto essencial em regiões de clima úmido.
Alvenaria
A alvenaria aparente é composta por tijolos maciços, possivelmente artesanais, com dimensões irregulares e variações de coloração, típicas do processo de queima em fornos rudimentares. As juntas são preenchidas com argamassa. Os três diferentes períodos construtivos são evidenciados pelas distinções na cor e na aplicação dos tijolos.
O assentamento segue o padrão inglês, alternando fiadas de tijolos dispostos no sentido longitudinal (cabeça) e transversal (perpiano). Internamente, as paredes foram rebocadas com argamassa de cal.
Janelas
As janelas possuem vergas em arco abatido, construídas com a técnica de disposição radial dos tijolos — solução eficiente para a distribuição de cargas acima das aberturas. A base das janelas conta com peitoris de pedra, que protegem contra infiltrações e desgastes, além de agregar valor estético e estrutural.
Originalmente, as janelas eram do tipo guilhotina, com bandeira fixa, facilitando a ventilação e a iluminação. As folhas eram divididas em seis pinázios com vidro, criando uma composição rítmica e funcional. Após o restauro, manteve-se o sistema de guilhotina, agora com duas folhas de vidro inteiro.
O porão apresenta aberturas circulares do tipo óculo para ventilação, executadas com tijolos maciços dispostos radialmente, formando arcos completos ao redor dos vãos. Esse uso da alvenaria em tijolo, mesmo em paredes de pedra, era comum em edificações industriais, pois conferia maior controle e estabilidade às aberturas.
A primeira fase construtiva, contudo, apresenta aberturas em arco pleno no porão, com esquadrias metálicas em ferro forjado. Os caixilhos possuem perfis delgados em desenho radial, com montantes metálicos convergindo para um ponto central na base do arco, formando um padrão semelhante a um leque.
Espaço superior do prédio e junto ao telhado, sem acesso ao público.
Ilustração da Cronologia de construção da edificaçao existente
Antes da construção de tijolos existia uma casa de madeira feita no final do século.
Em 1905 foi erguida a construção de tijolos junto a de madeira existente.
Na década de 1910 os fundos são ampliados sobre a base de pedra existente
Em 1917 expandem a construção para a base do arroio com casa de máquinas para instalação de novos equipamentos.
Em 1918 a frente de madeira é substituída por uma ampliação da construção de alvenaria que recebe uma fachada eclética rebocada.