Bacia Hidrográfica do Arroio Tega
Estão localizadas no município de Caxias do Sul 6 sub-bacias hidrográficas que compreendem a área urbana: Belo, Faxinal, Maestra, Piaí, Pinhal e Tega.
A sub-bacia hidrográfica do Arroio Tega, está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Taquari-Antas e localiza-se na área oeste do município. Possui uma área total de 293km² e um perímetro de 116,81 km. Fazem parte da sub-bacia os bairros: Santa Fé, N. Sra. do Rosário, Cinquentenário, Desvio Rizzo, Cidade Nova, Reolon, N. Sra. da Saúde, N. Sra. de Fátima, Pioneiro, São José, Centenário, Santa Catarina, Marechal Floriano, Medianeira, Floresta, Jardelino Ramos, Universitário, Sagrada Família, Jardim América, Madureira, Interlagos, Saint Etienne, Serrano, São Pelegrino, Colina Sorriso, Altos do Seminário e parte dos bairros São Ciro, De Lazzer, Diamantino, Centro e Forqueta.
A GEOLOGIA estuda a formação da superfície terrestre, os períodos em que ocorreram, os eventos e os materiais formados, contribuindo para entender o uso desses materiais e a história das regiões. No Brasil, a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais-CPRM mapeou as formações geológicas, incluindo a bacia do Arroio Tega, a qual é composta por dois tipos de rochas formadas durante o período Cretáceo (há 65 milhões de anos), que são as: Fácies Caxias e Fácies Gramado, ambas pertencentes à Formação Serra Geral no norte do Rio Grande do Sul. As Fácies Caxias, mais jovens e localizadas em áreas mais altas, resultam de derramamentos vulcânicos sobre as Fácies Gramado. Apesar das diferenças, ambas são usadas na fabricação de blocos e paralelepípedos.
No mapa podemos observar as formações geológicas que constituem a Bacia Hidrográfica do Arroio Tega.
PEDOLOGIA é o estudo dos solos no seu ambiente natural. Os solos resultam da transformação das rochas em partículas pequenas ao longo de milhares de anos, por ação de água, vento ou raízes de plantas. Suas características variam conforme as rochas de origem, influenciando seu uso, como na agricultura ou pastagem.
Na bacia do Arroio Tega, foram identificados cinco tipos de solo, classificados pelo Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos:
- Argissolos Acinzentados: baixa fertilidade e drenagem ruim, usados no plantio de mandioca, feijão e milho.
- Cambissolos Háplicos: solos rasos e pedregosos, de uso limitado pela inclinação e de fertilidade variável.
- Cambissolos Húmicos: ricos em matéria orgânica, mas de baixa fertilidade, destinados a pastagem ou reflorestamento.
- Neossolos Litólicos: rasos e localizados em áreas inclinadas, usados na produção de uva.
- Nitossolos Brunos: férteis e usados no cultivo de maçã, pera, caqui e uva, embora pedregosos e inclinados.
O uso e cobertura do solo na bacia do Arroio Tega inclui áreas urbanas, florestas naturais, agricultura, pastagens, campos naturais, silvicultura e corpos d’água. Mapas de uso do solo, gerados a partir de imagens de satélite, desde 1985 pelo MapBiomas, mostram como a principal mudança de cobertura é a transformação de florestas em área urbana. Em 1985, 62% da área era coberta por florestas e 6,5% era urbana. Em 2023, as áreas urbanas cresceram para 17%, enquanto as áreas de florestas reduziram em 20%. Apesar da redução, 48% da área é ocupada por floresta, sendo essencial protegê-la para manter a qualidade da água do Arroio Tega, cuja principal fonte de poluição tem origem no perímetro urbano.
O Arroio Tega possui margens preservadas desde sua nascente até o final das barragens do sistema Dal Bó, assim como os arroios menores que o alimentam, contribuindo para a qualidade da água captada. O complexo de barragens Dal Bó, composto pelos lagos das barragens São Paulo, São Pedro e São Miguel, abastece 41 bairros de Caxias do Sul, principalmente na zona norte, atendendo cerca de 95 mil pessoas. Entre a Rua Ricieri Pícoli (Tanque de contenção do bairro São José) e a Avenida Ruben Bento Alves, o arroio está retificado e canalizado, com pouca vegetação. No entanto, a partir da Rua Ludovico Cavinato, até o Moinho da Cascata, o arroio volta a apresentar vegetação natural em grande parte de suas margens.
FLORA NO MOINHO DA CASCATA
A área do Moinho da Cascata está localizada na sua totalidade na região da Floresta Ombrófila Mista, como pode ser observado na figura ao lado, que é caracterizada pela combinação de floras australandina e tropical afro-brasileira. Apesar da aparência de uma formação uniestratificada, sob as copas das araucárias há uma diversidade de árvores, arbustos, ervas, epífitas e lianas, cuja composição e porte variam conforme o local e o estágio de desenvolvimento da comunidade.
Atenção: Isso não quer dizer que a região ainda é coberta totalmente por vegetação, mas sim, que fazemos parte dessa formação fitogeográfica.
A Floresta Ombrófila Mista está presente em altitudes superiores a 500 metros, desenvolve-se principalmente sobre rochas basálticas e efusivas ácidas. Seu elemento característico é a Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze (pinheiro-brasileiro), que domina o dossel florestal. Esta floresta ocorre intercaladamente com o campo de altitude, originando um sistema em mosaico campo/floresta (Klein, 1960). Dentre as espécies que se destacam na região de ocorrência da Floresta Ombrófila Mista está a Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, denominada popularmente de pinheiro, araucária ou pinheiro-brasileiro. É uma espécie perenifólia (mantém as folhas o ano todo) e heliófila (desenvolve-se em locais bem iluminados), podendo atingir até 50 metros de altura.
A caracterização florística da área de estudo, foi realizada utilizando o método proposto por Filgueiras (1994), que consiste em um caminhamento expedito em transectos.
Foram realizados trabalhos de campo, para levantamento e identificação da vegetação da região avaliada. Dessa forma, as espécies do quadro ao lado realmente estão presentes nas proximidades do Moinho da Cascata.
Os resultados indicaram a presença de exemplares nativos e exóticos, que estão apresentados nas tabelas. Imagens das espécies identificadas em campo, constam na sequência.
FAUNA no Moinho da Cascata
O levantamento foi realizado por meio de amostragem secundária, a qual consiste na consulta de literatura especializada, coleções científicas por meio de bancos de dados digitais, material científico e inventários de fauna realizados próximo ou no município.
Os quadros a seguir apresentam as listas de espécies ocorrentes no município de Caxias do Sul, obtidas por meio de amostragem secundária, a qual consiste na consulta de literatura especializada, coleções científicas por meio de bancos de dados digitais, material científico e inventários de fauna realizados próximo ou no município.
A Columbina talpacoti, popularmente chamada de rolinha-roxa, foi uma das espécies brasileiras a se adaptar ao meio urbano. Ainda é a espécie nativa mais comum em boa parte das grandes cidades brasileiras. É curioso notar que costuma ser encontrada em maior quantidade em locais alterados pelo homem do que em seu próprio habitat original. São muito agressivas entre si — embora possam formar grupos, disputam alimentos e defendem territórios usando uma das asas para dar fortes pancadas no oponente.
Turdus rufiventris é conhecido como sabiá-laranjeira. É uma ave que canta principalmente ao alvorecer e à tarde, servindo para demarcar território e, no caso dos machos, para atrair a fêmea. A fêmea também canta, mas numa frequência bem menor que o macho. Sua alimentação é composta por insetos, larvas, minhocas e frutas maduras, incluindo frutas cultivadas como mamão, laranja e abacate. Come coquinhos de várias espécies de palmeiras e cospe os caroços após cerca de uma hora, contribuindo assim para a dispersão dessas palmeiras. A ração de cachorro também atrai essa espécie, podendo servir de alimento em cidades grandes com menor disponibilidade de alimentos naturais.
Pitangus sulphuratus é conhecido popularmente como bem-te-vi. Apresenta canto trissilábico característico que lembra as sílabas “bem-te-vi”, que dão nome à espécie. É insetívoro, podendo devorar centenas de insetos diariamente. Mas também come frutas (como bananas, mamões, maçãs, laranjas, pitangas e muitas outras), ovos e até mesmo filhotes de outros pássaros, flores de jardins, minhocas, pequenas cobras, lagartos, crustáceos, além de peixes e girinos de rios e lagos de pouca profundidade, e inclusive pequenos roedores. Costuma comer parasitas (carrapatos) de bovinos e equinos.
Qualidade da Água
A água, devido às suas propriedades de solvente e à sua capacidade de transportar partículas, acaba por incorporar diversas substâncias, as quais acabam por definir a sua qualidade.
No monitoramento da qualidade da água, o conjunto de variáveis pode ser arranjado de forma individual ou integrada, dependendo das avaliações pretendidas, bem como avaliadas através de índices específicos.
As variáveis também podem indicar a quantidade de efluente lançado, indicando o grau de pressão a que o curso hídrico está sujeito. A poluição das águas tem como origem diversas fontes, onde se destacam:
- Cargas pontuais: são fontes de poluição que têm um ponto específico de origem, como uma tubulação ou descarga visível;
- Cargas difusas: são fontes de poluição que não têm um ponto único de origem; a contaminação vem de várias áreas espalhadas.
Os parâmetros analisados para avaliar as condições do Arroio Tega, bem como sua definição, impacto e interpretação, estão apresentados no Quadro que seguem:
O Monitoramento da Qualidade da Água de Caxias do Sul começou em 2009, com o objetivo de avaliar as condições das sub-bacias urbanas e fornecer informações aos gestores públicos e à população, contribuindo para a criação de políticas públicas.
- Fase 1 (2009-2010): Estabeleceu a rede de monitoramento com 12 campanhas mensais em 12 pontos, analisando 27 parâmetros físico-químicos e microbiológicos, além da vazão.
- Fase 2 (2011-2012): Realizou 6 campanhas em 15 pontos diferentes, ampliando a análise para 29 parâmetros.
- Fase 3 (2012-2014): Expandiu o monitoramento para 30 pontos, com 12 campanhas bimestrais, analisando 28 parâmetros.
Esse trabalho forneceu uma base importante para entender e melhorar a qualidade da água no município.
Os pontos de amostragem foram selecionados com o objetivo de avaliar o impacto da contaminação decorrente do uso e ocupação do solo nas margens do Arroio Tega. As coordenadas geográficas dos pontos amostrados estão listadas na Tabela.
Destaca-se que o P2 – Região de Nascente do Arroio Tega – Bairro Interlagos fica localizado na entrada da área do “Piscinão São José”.
Mapa com os pontos de amostragem do Arroio Tega
Registros fotográficos nos diferentes pontos de amostragem:
A amostragem da água seguiu os procedimentos internos elaborados com base em normas reguladoras, manuais e instruções técnicas.
Os parâmetros analisados, pelo Instituto de Saneamento Ambiental (ISAM) e pelo Laboratório de Análises e Pesquisas Ambientais (LAPAM), bem como a metodologia utilizada e os respectivos limites de quantificação, são apresentados na tabela.
O Índice de Qualidade das Águas (IQA) foi criado em 1970, nos Estados Unidos, pela National Sanitation Foundation (NSF). A partir de 1975, começou a ser utilizado pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e, nas décadas seguintes, outros estados brasileiros também adotaram o IQA, que atualmente é o principal índice utilizado no país para determinação da qualidade da água.
O IQA foi desenvolvido para avaliar a qualidade da água bruta visando seu uso para o abastecimento público, após passar pelo processo de tratamento. Nove parâmetros são utilizados no cálculo do IQA (CETESB, 2023), sendo, em sua maioria, indicadores de contaminação causada pelo lançamento de esgotos domésticos. Os parâmetros utilizados são: oxigênio dissolvido, coliformes fecais, pH, DBO, fósforo total, temperatura, nitrogênio total, turbidez e sólidos totais.
Nas análises feitas em 2024, o Índice de Qualidade da Água (IQA) foi classificado como REGULAR no ponto P1 (Nascente São Ciro) e RUIM nos pontos P2 (Interlagos) e P3 (Moinho da Cascata). Isso mostra que a qualidade da água piora à medida que o arroio avança.
Observando os resultados do IQA ao longo do tempo, apresentados no gráfico ao lado, nos pontos P2 e P3, percebe-se que, entre 2012 e 2014, a maioria dos pontos já apresentava a classificação RUIM. Isso indica que, mesmo com o passar dos anos, não houve melhoria na qualidade geral da água nesses locais.
O processo de enquadramento de um curso hídrico consiste em uma série de etapas que buscam definir a qualidade desejada para as águas de um rio, conciliando as condições atuais com os objetivos de usos futuros. Este processo é orientado pela Resolução CNRH nº 91/2008 (CNRH, 2008), que estabelece os procedimentos gerais para o enquadramento dos corpos d’água superficiais e subterrâneos.
Na figura a seguir, estão ilustradas as etapas do processo de enquadramento dos cursos hídricos, detalhadas na sequência:
- Diagnóstico da Qualidade da Água:
Nesta etapa inicial, é realizada uma análise detalhada da qualidade atual da água, considerando parâmetros físicos, químicos e biológicos. O objetivo é entender o estado real do rio — ou seja, identificar o “rio que TEMOS”. - Classificação da Classe conforme CONAMA nº 357/05:
Com base nos resultados do diagnóstico, o corpo hídrico é enquadrado em uma das classes de qualidade definidas pela Resolução CONAMA nº 357/05. Essas classes variam de 1 a 4 (para águas doces), sendo a Classe 1 a mais restritiva, destinada a usos mais nobres, como abastecimento humano, e a Classe 4, voltada a usos menos exigentes. - Definição dos Objetivos de Uso:
Nesta etapa, por meio da participação do Comitê de Bacia Hidrográfica, da sociedade civil e do Estado, define-se o “rio que QUEREMOS”, estabelecendo metas de qualidade para o corpo d’água com base nos usos futuros desejados, como abastecimento, recreação, irrigação ou preservação ambiental. - Consulta Pública:
Esta etapa é fundamental para garantir a participação democrática, com debate e coleta de sugestões para ajustar as propostas às necessidades e expectativas locais. - Definição do Enquadramento:
O enquadramento final do rio é oficializado, estabelecendo as metas de qualidade da água e suas condições de uso. Por exemplo, no caso apresentado, o Arroio Tega foi enquadrado como Classe 2, de acordo com a Resolução do Conselho de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul nº 405/2022, de 9 de março de 2022.
Este processo busca garantir o uso sustentável dos recursos hídricos, conciliando desenvolvimento socioeconômico com a preservação ambiental.
As concentrações dos parâmetros, bem como o atendimento ou não ao enquadramento para a Classe 2, estão apresentadas na tabela abaixo.
- Na Nascente São Ciro (P1), os resultados mostram que, nas duas coletas realizadas, apenas o parâmetro de coliformes termotolerantes ficou acima do limite permitido para a Classe 2, não atendendo aos limites estabelecidos para enquadramento.
- Na região da Nascente Interlagos (P2), em ambas as coletas, os parâmetros que ultrapassaram os limites foram: coliformes termotolerantes, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), nitrogênio amoniacal e fósforo total.
- No ponto Cascata do Moinho (P3), os resultados variaram entre agosto e setembro. Em agosto, os parâmetros com resultados além do limite foram: coliformes termotolerantes, DBO, fósforo total e cromo total. Em setembro, além desses, o oxigênio dissolvido e o nitrogênio amoniacal também não atenderam aos limites.
Apesar de sinais de recuperação apresentados pelo curso hídrico ao longo do período analisado — como pode ser observado na Figura —, alguns parâmetros ainda apresentam concentrações acima dos limites estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 357/2005, para a Classe 2, não atendendo ao enquadramento do trecho.
Os resultados das campanhas realizadas serão analisados de forma espacial e de forma temporal.
Na análise espacial, serão avaliados os níveis de contaminação/qualidade da água do Arroio Tega, do ponto mais a montante para o ponto mais a jusante, considerando os lançamentos pontuais e difusos ao longo do seu trecho.
Já na análise temporal, serão avaliados os níveis de contaminação do Arroio Tega ao longo do tempo, em campanhas realizadas entre 2009 e 2015, e em agosto e outubro de 2024, buscando avaliar se houve mudanças na qualidade da água no período analisado.
Em relação à análise espacial , com base nos resultados das análises realizadas em agosto e outubro de 2024, percebe-se que a qualidade da água do Arroio Tega piora à medida que passa pela área mais urbanizada. Isso ocorre devido ao lançamento de esgoto doméstico e resíduos industriais.
Essa piora fica evidente quando comparamos o ponto P1 (Nascente São Ciro, no início do arroio) com o ponto P3 (Moinho da Cascata, mais abaixo no curso da água).
Nos pontos mais a jusante, observa-se aumento nos valores de condutividade, pH, temperatura, turbidez, DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), nitrogênio amoniacal e nitrogênio total.
Além disso, o ORP (Potencial de Oxidação-Redução) diminui, indicando condições de pior qualidade da água.
Considerações Finais
O estudo sobre a Bacia Hidrográfica do Arroio Tega e o entorno do Moinho da Cascata destacou a riqueza ambiental e os desafios relacionados à preservação desse ecossistema. A análise geológica, pedológica, da cobertura vegetal, fauna e qualidade da água revelou a complexidade ambiental da região e a necessidade de ações voltadas à sua conservação.
Embora os dados demonstrem avanços em aspectos como a redução de certos poluentes e a recuperação de parâmetros da qualidade da água, ainda persistem desafios significativos, especialmente relacionados à contaminação por esgoto e poluentes orgânicos.
A urbanização e a ocupação do solo continuam a exercer grande pressão sobre os recursos naturais, comprometendo a sustentabilidade ambiental da região.